domingo, 17 de janeiro de 2016

Apego e dependência trazem a felicidade?

 O grande problema de sempre ser dependente do outro para se sentir feliz



Por muito tempo, ou melhor, por toda minha vida, relacionar-me com os outros foi uma questão muito complicada. Para que o texto não vire uma enorme confusão vou me focar nos relacionamentos amorosos e deixar as questões de amizades e familiares para outro momento.

Quando penso na palavra amor o que me vem à mente é a conexão mais forte e intensa que pode existir entre duas pessoas (ou mais). E abençoados são aqueles que encontraram esse sentimento tão puro. Sempre tive a ideia de que eu poderia viver solteiro por anos, mas nunca iria começar uma relação apenas para me sentir bem comigo mesmo.
Nunca quis nada que não fosse intenso e grandioso. E sempre fui assim. Inicialmente um rostinho bonito pode até me atrair, mas com toda a certeza não é o que me mantém conectado a alguém. O envolvimento sempre foi o mais importante para mim. Não aceito nada superficial. Se for para se envolver, que seja “infinito enquanto dure”. Essa é a minha maneira de encarar os relacionamentos. Não sei se é a correta ou até se existe uma maneira correta, apenas é a minha.

Contudo, passar por enormes sofrimentos na juventude e não poder expressar e desenvolver minha sexualidade como qualquer outro jovem criou entraves e barreiras que até hoje luto para conseguir compreender e superar.
Com os anos eu vi um jovem romântico se transformar cada vez mais em uma pessoa isolada e com medo de se envolver. Na minha adolescência quando eu não era assumido, eu tinha aquela ideia de que encontraria alguém que me ajudaria a passar por todo o sofrimento. Que me apoiaria. E quando tudo estivesse ruim, ao fechar os olhos, eu pensaria nele e então o mundo se tornaria um lugar mais suportável.

Acabei criando uma dependência. Via no outro aquele que me traria paz de espírito e que me ajudaria a aguentar meu sofrimento. Quando a relação ficava mais intensa, o outro se tornava como um remédio da felicidade pra mim. O apego ficava muito forte . Eu me sentia frágil e acreditava que não podia ser feliz sozinho.  
E depois a situação ainda piorou, porque quando percebi que tinha essa “dependência pelo outro” comecei a evitar a me relacionar. Amava amar, mas não queria ser dependente de ninguém. Isso me assustava muito. Passei messes (e até anos) sem me envolver emocionalmente com ninguém. Amar virara sinônimo de vício para mim. E eu não queria isso. Precisei de tempo e de alguns relacionamentos frustrados, para conseguir alcançar alguma paz de espírito e felicidade por conta própria.

Recentemente, passei por uma situação que foi um dos meus maiores ensinamentos. Comecei a sair com um rapaz. Vou chamá-lo de Eric. Ele era um cara super simpático, inteligente e muito bondoso. Não demorou muito e ele conseguiu ultrapassar todas as barreiras que eu sempre construía envolta de mim. (E olha que isso é algo bem difícil de acontecer). Dessa vez me permiti envolver. A relação, mesmo que muito recente, tinha tudo para sair da superficialidade.
Mas relacionamentos são complicados e acabamos não seguindo por esse caminho. Eric está passando por uma fase muito confusa pelo qual todos nos passamos ou vamos passar um dia. A questão da sexualidade ainda é muito recente para ele. Eu fui o primeiro cara com quem ele marcou um encontro. (Aquele dia no barzinho foi tão divertido). Envolver ainda o assustava mais do que acontecia comigo.  E por causa disso acabamos nos afastando.
No início, eu entendi os motivos dele. E deixamos bem claro que não queríamos que ficasse um clima de despedida entre a gente. Aquele só não era o momento certo. O engraçado é que eu sempre quis passar por meus problemas com alguém me apoiando e ele preferia ficar sozinho.

Aquele afastamento tinha ocorrido em um momento muito ruim. Eu não estava bem emocionalmente e aquilo começou a me afetar muito. Eu me via como uma pessoa infeliz que dependia de outro para ter momentos de felicidade. Tinha me envolvido mais uma vez e não tinha dado certo. Meu cérebro ria e gritava “você nunca vai ser feliz. É impossível você dar certo com alguém”. E realmente ele estava certo. Não totalmente, mas em parte sim. Se eu continuasse com aquele pensamento que precisava de alguém para suportar os sofrimentos da vida, eu nunca seria feliz de verdade.
A semana anterior da criação do blog foi uma das mais depressivas da minha vida. Eu não conseguia ver a felicidade em nada. Só conseguia pensar que era pessoa mais solitária do mundo e que seria impossível me relacionar com alguém. Nunca daria certo.
Eu sabia que não podia deixar me abalar. Tinha que mudar de pensamento, ocupar minha mente e seguir com minha vida. Foi difícil, muitas vezes queria ligar para o Eric e contar como estava sofrendo. Não pelo afastamento dele, mas por simplesmente ser infeliz.
E essa situação é antiga. Já tinha passado por essa dependência outras vezes. Era o momento de superar e dar um basta nisso

"31 de dezembro de 2015: 
Todo meu grande medo da solidão tem origem na minha insegurança. Não posso esperar que outros me deem a paz e segurança se eu mesmo não as possuo de início. 
Tenho amigos incríveis e maravilhosos, mas isso não foi suficiente para me impedir de chorar no chão do banheiro pelo abandono do Bernardo  (isso ocorreu há um ano quando estava fazendo uma viagem com meus amigos. Bernardo foi um garoto com quem me envolvi em 2014).
Contudo mesmo que eu tivesse o Bernardo do meu lado, eu ainda não seria totalmente feliz. Talvez tivesse momentos de felicidade e assim ficaria dependente da presença dele. Quando então estivesse longe (física e principalmente longe emocionalmente) toda a solidão escondida dentro de mim iria me dominar novamente."

 Consegui controlar minha necessidade de apego. Não criei expectativa. Não esperei nada do Eric, apenas uma amizade. Consegui não ficar dependente do outro. Comecei a enxergar a felicidade em mim mesmo. Passei a enxergar meus problemas com outra perspectiva. Não quis me afastar do Eric e hoje continuamos amigos. Se amanhã teremos algo, não me importo. O que me importa é ser feliz hoje. E que ele consiga paz também.
Talvez se tivesse dado certo com o Eric, eu iria continuar sendo dependente de alguém. Não ia conseguir suportar sofrimento nenhum sozinho e sabe-se lá por quantos anos eu iria continuar desta maneira. No momento que eu não deixei me abater e suportei o sofrimento, percebi o quanto era forte. Percebi como o amor-próprio trazia uma paz de espírito muito maior que qualquer pílula ou atenção de alguém poderia proporcionar.

"15 de Janeiro de 2016:

Eu tinha tudo para repetir o mesmo sofrimento que passei com o Bernardo há um ano atrás. Mas dessa vez foi diferente. Eu estou diferente. Eu mudei. Antes eu tinha medo de me envolver e de acabar sofrendo por causa disso. Por muito tempo evitei ter essa conexão com alguém, mas no fundo sofria por causa disso. Fugia para não sofrer. Sofria porque fugia. 
Por toda a minha vida eu esperei por alguém que pudesse me apoiar, como se eu não fosse forte o bastante para suportar as dores da vida. Dessa vez resolvi não fugir. Me afastar do Eric assim como fiz com o Bernardo só me traria mais tristeza. Foi nesse instante em que busquei meu amor-próprio que uma felicidade imensa me envolveu. Não sei como detalhar isso com palavras. Eu era capaz de suportar o afastamento do Eric e continuar amigo dele sem depender da presença dele para ser feliz. A partir deste momento eu percebi o quanto era feliz." 

Não sei se alguém lê meus textos hahah O blog é muito recente e ainda não sei como divulgá-lo melhor. Apenas escrevo para desabafar. Caso alguém tenha lido, possuo algumas questões que gostaria de saber: vocês já passaram pela situação de depender do outro para ser felizes? Como lidaram com o isso? Como lidam com o término de relacionamento? Se afastam da pessoa ou conseguem manter um contato saudável ou até uma amizade?    

Um comentário:

  1. Acho que o maior desafio que encontramos quando estamos "nos descobrindo" é conseguir entender quem somos uma pessoa normal e que temos todo o direito, e merecemos, ser felizes tanto quanto qualquer pessoa...

    Eu demorei a me sentir "tocado" pelo amor, achei que não tivesse coração, de verdade... Vem daí o "tema" do meu blogue! Eu era o Homem de Lata... No meu caso, passei anos e anos construindo sofisticados sistemas e mecanismos de defesas que me permitiam viver sem maiores traumas e consequências, tudo bem que como eu digo, eu era/sou quase uma samambaia! :P

    Mas sempre vai haver aquele momento, ou aquele cara, que consegue furar todos os nossos mecanismos, a maior muralha que que erguemos e que vai nos tocar profundamente. Que vai nos deixar só de ver uma mensagem no celular, que vai nos inebriar com as mais simples conversas, enfim... que vai abrir nossa caixa de pandora!

    Na minha cabeça, eu gostava dele, ele gostava de mim, fechou!!!
    Mas não é assim que a vida funciona, ele tinha as questões dele para resolver (na verdade todos nós temos, né?!) E quando eu achei que estava encontrando a felicidade, ele se foi... E foi muito duro para mim, quanto mais alto a gente vai, maior é a queda... e foi duro!

    No começo pensei no que tinha errado, se era porque eu era assim ou assado, se não fui bom o suficiente, o que eu não soube fazer. Muitas lágrimas escondidas depois, entendi que não tinha feito nada de errado, eu também tinha questões para resolver (ainda as tenho na verdade), mas o "problema" era ele... meu único erro (ou não) foi acreditar demais no sentimento que existia entre nós (que diga-se de passagem é/foi verdadeiro).

    Sabe as vezes penso, que essa "suposta dependência" que sentimentos, é na verdade um pouco de medo... Medo de que aquela seja nossa única oportunidade de sentir aquele bem estar novamente, medo de não saber quando (e se) vai aparecer novamente alguém que nos veja... Se aquela mágica vai acontecer de novo...

    Você já pensou nisso?!

    Por fim, que eu já falei um bocado, as vezes a única coisa a se fazer é se afastar, não adiantar... é brincar com fogo, temos a consciência de que as coisas não vão acontecer, ou não podem, mas no primeiro charme nos encontramos novamente e vemos aquilo todo voltar, com força total!

    Essa pessoa que contei... eu me afastei por um tempo, mas nunca consegui lhe virar a cara ou ser indiferente, mas estabeleci uma distância de segurança... Hoje, já temos uma relação de amizade, ainda vez por outro me vejo empolgado com algumas conversas, mas hoje tenho uma certa serenidade e discernimento para saber lidar com as coisas. (Mas não é fácil!!!)

    Mas tudo passa! Não tenha medo, se for para ficar... ele ficará na sua vida... pensa que talvez ele tenha surgido naquele momento para te ajudar a se conhecer, a se entender melhor... Seja grato por isso, veja o que pode aprender e não cultive as coisas ruins...

    Ufa! Falei demais né... Espero que possa ajudar de alguma forma.

    Grande abraço.

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